Música baiana em crise: quando o apelo sexual e o crime dominam o cenário cultural
A Bahia, berço de uma rica e diversa cultura musical, que deu ao Brasil nomes como Ivete Sangalo, Bell Marques, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia e tantos outros, vive hoje uma preocupante transformação em parte de sua produção musical. A nova tendência, especialmente no pagode e no arrocha, se distancia das tradições que exaltavam a beleza da cultura baiana, do amor e da alegria para mergulhar em letras explicitamente vulgares e que, muitas vezes, flertam com apologia ao crime.
Frases como "rala xereca", "senta no pau", "roça no fuzil" e "roça na quadrada" têm dominado as playlists, festas de rua e até rádios locais. O problema não é apenas o conteúdo em si, mas o contexto em que ele é consumido: músicas com mensagens explícitas tocadas em volumes ensurdecedores, em espaços públicos, e, ainda mais preocupante, a naturalização desse tipo de material para crianças, que frequentemente são incentivadas pelos próprios pais a reproduzir danças e coreografias sexualizadas.
Essa tendência gera um duplo impacto negativo: na formação cultural das novas gerações e no convívio social. Enquanto a música poderia ser um instrumento de valorização e resgate das raízes culturais, ela tem sido usada, em alguns casos, para normalizar comportamentos problemáticos. A situação se agrava com o uso de equipamentos como paredões e caixas de som automotivas, que transformam áreas residenciais e públicas em cenários de poluição sonora constante, ferindo o direito ao silêncio e ao descanso de toda a sociedade.
O papel da sociedade e do poder público
É necessário ressaltar que a crítica aqui não é à liberdade de expressão artística, mas ao desrespeito às normas de convivência social e à exposição inadequada de conteúdos sensíveis em ambientes públicos. O consumo de música com conteúdos explícitos é um direito de cada indivíduo, mas isso precisa ser feito em locais apropriados e com medidas que preservem o direito dos demais.
Nesse contexto, uma regulação mais rigorosa poderia ser implementada para definir espaços e condições para a reprodução de músicas desse teor. Entre as medidas propostas estão:
Restrição do uso de sons automotivos e paredões em áreas públicas sem isolamento acústico.
Limitação do volume máximo em bares e festas públicas, com fiscalização eficiente.
Classificação indicativa para eventos e músicas, semelhante ao que já ocorre com conteúdos audiovisuais.
Campanhas educativas para conscientizar os pais sobre os impactos do consumo de conteúdos inadequados por crianças.
Preservar o legado cultural baiano
A Bahia sempre foi sinônimo de criatividade e diversidade musical. O axé, o samba, a MPB, o forró e outros ritmos locais são expressões da alma do povo baiano e devem ser valorizados e resgatados. É preciso um esforço conjunto entre artistas, produtores, poder público e a própria sociedade para evitar que essa tendência vulgar e sem compromisso com valores culturais se torne dominante.
A música baiana tem o potencial de continuar inspirando gerações, como já fizeram grandes ícones da nossa história. No entanto, é imprescindível equilibrar a liberdade artística com a responsabilidade social, para que possamos entregar às próximas gerações não apenas um cenário musical rico, mas também ético e respeitoso.
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